Ansiedade profissional – Revista psique

Ansiedade profissional: normal ou paralisante? A ansiedade é uma emoção normal, combustível para a busca de crescimento pessoal e profissional. Mas, quando é acionada incessantemente, o organismo entra em colapso, podendo até provocar o surgimento de psicopatologias. De acordo com Leite e outros (2006), atualmente, as discussões apresentam definições e conceitos de ansiedade tanto como um sintoma quanto como uma patologia, que envolve aspectos multifatoriais, de caráter somático ou cognitivo. Normalmente, pode se manifestar em circunstâncias que denotem algum perigo eminente originado por uma situação ameaçadora em específico ou, simplesmente, por alterações em nosso meio ambiente, arroladas no processo de desenvolvimento econômico, social e cultural. Mas, para entender a ansiedade na sociedade é preciso compreender os aspectos socioeconômicos e culturais nos quais o trabalho encontra-se inserido. A competitividade acirrada, o mercado de trabalho altamente exigente e o medo do desemprego são fatores importantes neste entendimento. A pressão por resultados o desejo de promoção são aspectos importantes que desencadeiam grandes crises de ansiedade. A sociedade contemporânea imersa em uma cultura de consumo e de um mercado voltado à competitividade acirrada envolve suas empresas e, consequentemente, seus funcionários em uma cultura que muitas vezes desenvolve um alto nível de ansiedade, gerando o medo de perder o “lugar” ao sol. Portanto não podemos retirar a ansiedade vinculada ao trabalho deste contexto, apenas patologizando o indivíduo pelos sintomas que apresenta. É importante que se entenda que a ansiedade é uma emoção normal. Ela é combustível para a busca de crescimento, seja ele pessoal ou profissional. Desde que bem manejada, ela pode ajudar o profissional, buscando, por exemplo, o aprimoramento, ou ainda outras oportunidades. A ansiedade é um estado de alerta que coloca o organismo pronto para ação. Quando tal mecanismo fisiológico é acionado incessantemente, o organismo entra em colapso gerando patologia, como se vivesse sempre indefeso em estado de alerta frente ao perigo. Uma sensação de desamparo e perigo, estes em sua maioria imaginários em detrimento dos reais. Fora de controle No estado incontrolado de ansiedade, o indivíduo torna-se extremamente atento às sensações internas e apresenta dificuldades em racionalizar e interpretar os fatos circundantes de forma realista e adequada. O medo o domina e os pensamentos negativos passam a ser seus guias. Por exemplo, profissionalmente, a sensação de que algo iminente acontecerá que poderá levá-lo a tornar-se desempregado. Tal medo torna-se tão real, mesmo que não existam dados reais para que acredite nesta hipótese. Imagens aterrorizantes de fracasso e pobreza podem vir à tona com frequência, aumentando o apavoramento como em um looping dos horrores. Além da própria genética e da sociedade moderna na qual vivemos, existem outros fatores que podem propiciar o aumento da ansiedade, atrapalhando o desenvolvimento profissional. As relações familiares, o amparo (ou desamparo) e modelos aprendidos no ambiente familiar são também contribuições importantes na estruturação da personalidade. Famílias muito rígidas ou famílias negligentes podem implicar em dificuldades, inclusive na escolha profissional e na estruturação da autoestima. De acordo com Hutz e Bardagir (2006), os estilos parentais afetam o desenvolvimento dos filhos de forma global, na formação de competências básicas que gradativamente influenciam comportamentos complexos como a decisão profissional. Por isso, as interações familiares tornam-se ainda mais importantes na compreensão das situações vivenciadas pelos filhos na adolescência, sendo um referencial de análise fundamental também em etapas posteriores da socialização. A rigidez familiar bem como a negligência frente ao desenvolvimento dos filhos pode levar ao desenvolvimento de crenças centrais vinculadas à ausência de competência, bem como à incapacidade de resolução de conflitos e problemas nas interações profissionais. Tais crenças centrais podem gerar cobrança interna excessiva e uma hipervigilância frente à ausência de autoconfiança que tendem a ser paralisantes. A insegurança em relação às próprias habilidades e o medo de não conseguir cumprir as tarefas do cargo são as maiores fontes de ansiedade profissional, segundo o coach Homero Reis, em site da Catho Educação Executiva. A solução para o problema, de acordo com ele, começa com preparação e treino. “O fato de não conseguir ou achar que não sabe fazer alguma coisa é o que traz ansiedade”, diz. O treinamento e domínio sobre o que se faz é a chave para a diminuição e controle da ansiedade bem como modificação de crenças, como a sensação de incapacidade. Ainda segundo o coach, outro comportamento que alimenta a tensão dos ansiosos é a preocupação em querer agradar todo mundo. “Quem sofre de ansiedade não consegue estabelecer limites”, alerta Homero Reis. Portanto, dar limites ao chefe e colegas de trabalho, bem como assumir somente aquilo que pode cumprir diminui a carga de cobrança externa e interna. É importante que cada um estabeleça prioridades e as cumpra sem o acúmulo excessivo de tarefas. Alguns sintomas No aspecto cognitivo, as reações e/ou sintomas podem ser caracterizadas por sentimentos subjetivos como apreensão, tensão, medo, tremores indefinidos, impaciência, entre outros; no aspecto somático, por alterações fisiológicas nos vários sistemas do organismo, como taquicardia, vômitos, diarreia, cefaleia, insônia e outros. Estes sintomas não são prejudiciais ao organismo, na verdade são benéficos; a função da ansiedade é protegê-lo e não prejudicá-lo. No entanto, podem adquirir contornos patológicos e variar em frequência, duração ou intensidade, de pessoa para pessoa. Podemos entender que um alto nível de ansiedade gerou um transtorno quando dificulta ou impede o curso normal de vida daquele que sofre de ansiedade. A classificação atual de ansiedade reúne as perturbações experimentadas nas classes dos transtornos de ansiedade, de acordo com critérios bem definidos e estabelecidos pela Associação Psiquiátrica Americana na 4ª edição do Manual de Diagnóstico e Estatística (DSM-IV), a saber: transtorno do pânico sem agorafobia, transtorno do pânico com agorafobia, agorafobia sem histórico de transtorno do pânico, transtorno de ansiedade generalizado, fobia social, fobia específica, transtorno obsessivo-compulsivo, transtorno de estresse pós-traumático, transtorno de estresse agudo, transtorno de ansiedade sem outra especificação (SOE), transtorno de ansiedade devido à condição médica geral e transtorno de ansiedade induzido por substância. Fatores genéticos, ambientais e de experiências vividas de caráter sofrido, durante o desenvolvimento da personalidade, parecem estar associados à ansiedade clínica. De acordo com Ana Beatriz Silva no livro “Mentes Ansiosas” “Segundo a Associação de Psiquiatria Americana (APA), os transtornos de ansiedade* são vários, e a principal característica deles, além da presença de ansiedade, é o comportamento de esquiva, ou seja, a pessoa tende a evitar determinadas situações nas quais a ansiedade exacerbada pode deflagrar. Dentro desse leque, o medo patológico pode se manifestar de diversas formas e em graus de intensidade diferentes, tais como: • Súbitos ataques de pânico, que podem evoluir para o transtorno do pânico. • Fobia social ou timidez patológica, na qual as pessoas percebem ameaças potenciais em situações sociais e em exposição em público. • Medos diversos ou fobias simples, cuja ameaça provém de • estímulos bem específicos (animais, lugares fechados, chuvas, avião etc.). • Transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), quando vivemos experiências traumáticas significativas (sequestros, perdas de entes queridos, acidentes etc.). • Transtorno de ansiedade generalizada (TAG), que se caracteriza por um estado permanente de ansiedade, sem qualquer associação direta com situações ou objetos específicos. • Transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), no qual a mente é invadida por pensamentos intrusivos e sempre de conteúdo ruim (obsessões), que desencadeiam rituais repetitivos e exaustivos (compulsões), na tentativa de exorcizar tais ideias. Recentes estudos norte-americanos, de abrangência significativa, revelaram que 25% das pessoas apresentam algum tipo de transtorno de ansiedade ao longo de suas vidas.” Ampliando esta caracterização, de acordo com a classificação dos transtornos de ansiedade do DSM IV in www.inecusp.org : O transtorno de ansiedade generalizada é um estado de apreensão ou preocupação constante, de intensidade flutuante cuja causa não é identificável. Geralmente é acompanhado de tensão motora, irritabilidade e perturbações do sono. É persistente, com duração de pelo menos 6 meses. O transtorno do pânico caracteriza-se pela ocorrência de crises ou ataques de pânico repetidos, acompanhado pela sensação de medo intenso, com frequência de quatro episódios em um mês. Geralmente estes ataques são caracterizados por súbitos episódios de terror, nos quais a pessoa pode sentir alguns sinais como palpitações, falta de ar, palidez, tontura e náuseas. Os ataques de pânico são imprevisíveis e a pessoa teme persistentemente ter outro ataque. O transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) caracteriza-se pela ocorrência involuntária de representações, imagens ou impulsos repetitivos involuntários que podem ser acompanhados da necessidade imperiosa de realizar comportamentos estereotipados ou rituais, como por exemplo, lavar repetidamente as mãos por acreditar que estão contaminadas ou expressar comportamentos de limpeza para aliviar a ansiedade (compulsão). As compulsões podem ser acompanhadas ou não das obsessões. As fobias são caracterizadas pelo medo excessivo, persistente e incontrolável, direcionado a um objeto ou uma situação. As fobias classificam-se em agorafobia, sociofobia e fobias simples. A agorafobia é o medo de frequentar locais públicos e geralmente está associada ao transtorno de pânico. Já na sociofobia, a pessoa tem medo de ser julgada pelos outros e, conseqüentemente, se afasta prejudicando a interação social. As fobias simples, dentre os transtornos, são as mais comuns em crianças. São caracterizadas pelo medo de determinados objetos ou situações como animais, tempestades e altura. O transtorno do estresse pós-traumático consiste num distúrbio desenvolvido após uma experiência traumática, como assaltos seguidos de violência, desastres naturais e guerras. Caracteriza-se por um medo intenso em reviver experiências perturbadoras, seja em sonhos, ou como lembranças vividas de imagens do passado, que invadem involuntariamente a consciência – os chamados flashbacks. Um grande sofrimento se desenvolve quando surgem lembranças de algum aspecto do trauma. Há uma intensa necessidade de evitar sentimentos, pensamentos, conversas, pessoas ou lugares que ativem recordações do trauma. O transtorno de ansiedade atípica é constituído das demais formas de ansiedade primária, que não se enquadram nas definições anteriores. Os tratamentos consistem em psicoterapia e/ou farmacoterapia. No primeiro caso, alguns pacientes são submetidos à exposição prolongada à situação ou ao objeto temido e, em outros, à terapia cognitiva, que visa modificar a maneira com que o paciente interpreta os sinais corporais. Como dito anteriormente o tratamento consiste basicamente no enfrentamento das situações ansiogências, confrontando crenças e pensamentos disfuncionais do paciente acerca do trabalho, relacionamentos e sobre si mesmo e seu desempenho buscando ajudá-lo a olhar a mesma situação a partir de novos ângulos. A forma como um indivíduo pensa sobre si mesmo e o mundo que o cerca determina o que sente e a forma como reage. Se por exemplo uma pessoa acredita que não pode falhar nunca, de forma rígida, se sentirá com medo sempre a tensão aumentará e poderá desenvolver reações inadequadas a este pensamento. Crenças relacionadas também à forma como lidar com autoridade podem gerar graves problemas no trabalho. Ressignificar tais crenças e torná-las mais flexíveis são estratégias fundamentais no tratamento dos transtornos de ansiedade. Ressignificar também a compreensão dos sintomas de ansiedade e levar o paciente a entendê-los seja através da psicoeducação, através do contato com o corpo, os sentimentos e a respiração é prioritário no controle e manejo dos sintomas, fazendo com que o paciente volte a se apropriar de seu corpo, desejos e de sua própria vida. Já nos tratamentos com uso de fármacos, normalmente são utilizados os da classe dos benzodiazepínicos (ansiolíticos, sedativo-hipnóticos, anticonvulsivantes e miorrelaxantes), da classe dos antidepressivos tricíclicos e da classe dos inibidores seletivos de recaptação de serotonina. Limites no ambiente de trabalho É importante que o funcionário tenha claro seus limites e busque realizar o máximo que pode deixando de lado o perfeccionismo que o faz buscar limites irrealistas para a efetivação de seu trabalho. A sensação de que o que faz nunca é bom o suficiente e de que alguma crítica aterradora virá, gera altos níveis de ansiedade. Caso esteja nessa situação sem que consiga racionalizar os pensamentos, a sugestão que os especialistas dão é a de pedir ajudar e opinião externas. Saber lidar com a crítica é treinamento importante, sabendo ouvir bem como reconhecer falhas e qualidades. Procurar os dados de realidades na ocorrência dos fatos é sempre o melhor caminho para buscar soluções. Ser justo, portanto, tanto com o outro como consigo mesmo é uma boa forma de colocar a cabeça no travesseiro e dormir tranquilo. As profissões com maior nível de responsabilidade decisória e riscos além do estabelecimento de metas são aquelas que geram maiores níveis de ansiedade. Para conviver bem com a ansiedade e usá-la a favor do crescimento e bom desempenho profissional é fundamental que antes de tudo tenha-se claro que o trabalho é uma parte importante da vida e não a vida como um todo. Não pode tomar conta de todas as relações que envolvem a vida de uma pessoa. Ela deve aprender a limitar tal interferência mesmo que para isso precise estabelecer como objetivo a mudança de área ou empresa. O status que um bom cargo ou promoção fornecem, bem como as boas sensações e o poder que advém de um cargo muitas vezes “sobem à cabeça”, tornando o indivíduo escravo dos mesmos. Torna uma pessoa reduzida ao ser gerente, diretor, ou engenheiro, fazendo-o esquecer de coisas simples, levando a cobrança da perfeição para que não perca a essência da conquista realizada. Para que isso não aconteça, é importante que outros prazeres, além do trabalho sejam mantidos, que os relacionamentos sejam cultivados, ampliando os diálogos e as ideias. A criatividade deve ser estimulada na busca de alternativas de vida mais saudáveis caso o trabalho seja um motivo real para a ansiedade. Buscar cultivar o bom humor é algo fundamental para este gerenciamento. A realização de atividades físicas é recomendação médica neste controle. Buscar olhar as dificuldades por outros ângulos é fundamental. Caso seja difícil realizar tal intento sem ajuda, a busca de um especialista é recomendada. A ajuda psicoterapêutica, e por vezes medicamentosa, podem ser grandes aliados na busca deste equilíbrio. Referências bibliográficas: • Araújo, Sônia Regina Cassiano de; Mello, Marco Túlio de; Leite, José Roberto -Transtornos de ansiedade e exercício físico – Rev. Bras. Psiquiatr. v.29 n.2 São Paulo jun. 2007 Epub 27-Nov-2006 • http://gnt.globo.com/carreira-e-financas/dicas/Como-controlar-a-ansiedade-no-trabalho–veja-dicas-praticas.shtml • Fonte: CATHO EDUCAÇÃO EXECUTIVA – Cursos Online, Cursos executivos, Cursos de formação, MBA, MBA Online, Artigos • Os desafios de um mercado aquecido in www.roberthalf.com.br acessado em 18/10/2012 • Hutz, Claudio Simon, Bardagir, Marcia Patta – Indecisão profissional, ansiedade e depressão na adolescência: a influência dos estilos parentais. Psico-USF, v. 11, n. 1, p. 65-73, jan./jun. 2006 • http://www.inecusp.org/cursos/cursoIII/classificacao_transtornos_ansiedade.htm • Silva, Ana Beatriz – Mentes ansiosas…. BOX: Ansiedade e carreira Vivemos a cultura do consumo e do imediatismo, graças à era da informática e da internet. Não por acaso é frequente os profissionais que se preocupam em mudar de emprego com rapidez, em busca, principalmente, de melhores salários. De acordo com Robert Half, empresa de recrutamento de recursos humanos o mercado aquecido é situação perfeita para quem é competente e almeja um novo emprego, desde que sejam tomados certos cuidados. E o principal deles se refere à ansiedade em conquistar um lugar ao sol. A dica vale especialmente para a geração Y, afoita por uma rápida ascensão profissional e, normalmente, pouco preocupada com a constante mudança de empregos. Ficar seis meses em cada companhia pode até ser desafiador do ponto de vista pessoal, mas compromete a imagem do profissional junto ao mercado. Por isso, é importante analisar as propostas com serenidade e encarar a troca de trabalho como uma decisão estratégica, com consequências em longo prazo. Nesse sentido, vale ressaltar que a remuneração é apenas mais um dos fatores, e não o principal, que pesam nessa decisão. Mudar de emprego de olho apenas em um salário mais gordo é um erro comum entre jovens profissionais. Hoje em dia, na hora da contratação, as companhias levam em consideração não apenas a expertise do candidato, mas também a forma como foi conduzida a sua carreira. 1. Para entender a ansiedade na sociedade é preciso compreender os aspectos socioeconômicos e culturais nos quais o trabalho encontra-se inserido 2. No estado incontrolado de ansiedade, o indivíduo torna-se extremamente atento às sensações internas e apresenta dificuldades em racionalizar 3. Além da própria genética e da sociedade moderna na qual vivemos, existem outros fatores que podem propiciar o aumento da ansiedade 4. As interações familiares tornam-se ainda mais importantes na compreensão das situações vivenciadas pelos filhos na adolescência 5. A insegurança em relação às próprias habilidades e o medo de não conseguir cumprir as tarefas do cargo são as maiores fontes de ansiedade profissional 6. A ajuda psicoterapêutica, e por vezes medicamentosa, podem ser grandes aliados na busca deste equilíbrio

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